If you’re going through hell, keep going
O vídeo, resultado da colaboração do artista com o escritor Patrick Findeis (também bolseiro do Villa Aurora), mostra o que parece ser um fluxo interminável de carros numa autoestrada à noite. A acompanhar o movimento lento e ritmado dos faróis, que faz lembrar as ondas do mar, há uma banda sonora sombria cuja narração em monólogo de frases curtas não forma uma história coerente, mas sim um fluxo de consciência inconsistente e quase esquizofrénico. As frases, que na realidade são citações de infames assassinos em série reunidas por Findeis, variam entre uma suposta inocência e o prazer (“Vejo-te na Disneylândia” e “Eu divirto-me”) e visões distópicas (“As pessoas nesta época sofrem uma lavagem cerebral, são programadas como um computador, não passam de marionetas”, e “Quero ver a cidade inteira incendiada”). Ao fazer das recordações e razões dos criminosos o subtexto para as imagens da paisagem automóvel familiar de LA, Bastos criou uma recontextualização elegante e desafiante que inverteu a realidade dos assassinos em série como figuras de exceção. À semelhança dos últimos filmes de David Lynch, cuja estética cinematográfica parece ser uma inspiração óbvia para Bastos, o vídeo insinua que a violência está incorporada na vida quotidiana: está no carro que circula ao nosso lado na autoestrada a a caminho do trabalho; e está sem um rosto reconhecível. Como diz uma das proclamações dos assassinos em série: “Sou apenas uma pessoa normal”. Substituindo as imagens estereotipadas dos assassinos em série pelas palavras dos próprios assassinos, o vídeo surge como uma declaração radicalmente perturbadora, sugerindo que talvez os assassinos em série não sejam aberrações psicológicas, mas encarnações extremas de uma violência fundamental que assombra a nação.
The video, the result of the artist’s collaboration with the author Patrick Findeis (also a Villa Aurora fellow), shows what seems like an endless flow of cars on a motorway at night. Accompanying the slow, rhythmic movement of headlights, reminiscent of the ocean’s waves nearby, is a dark soundtrack whose monologic narration of short sentences does not add up to a coherent story; rather, it relays an inconsistent and almost schizophrenic stream of consciousness. The sentences, which were in fact quotes from infamous serial killers assembled by Findeis, ranged from supposed innocence and delight (‘See you in Disneyland’ and ‘I have a good time’) to dystopian visions (‘People in this time and age are brain-washed, programmed like a computer, being nothing more then puppets’, and ‘I want to see the whole city burned down’). By making the criminals’ recollections and reasons the subtext for the imagery of the familiar carscape of LA, Bastos created an elegant and challenging recontextualization that inverted the reality of serial killers as figures of exception. Like the later films of David Lynch, whose cinematic aesthetics seem an obvious inspiration for Bastos, the video insinuated that violence is embodied in everyday life: it is in the car driving next to you on the freeway on your way to and from work; and it is without a recognizable face. As one of the serial killers’ proclamations has it: ‘I am just a normal person.’ Replacing stereotypical serial killer imagery with the killers’ own words, the video came off as a radically disturbing statement, suggesting that perhaps the serial killers are not psychological freaks but extreme embodiments of a more fundamental violence haunting the nation.
Jacob Lillemos in Frieze Magazine, Issue 145, March 2012